Saturday, November 3, 2018

TIAN SHI

Inventaram os homens o tempo, a partir dos dias e das noites. Fizeram bem, afinal, ainda que, ao fazê-lo, se tenham esquecido de pensar na sua própria finitude.
O que temos ou nos resta são palavras, pobre riqueza de humanos, ramagem dos sentidos, sentimentos erguidos à luz de uma qualquer heráldica do dizer.
Os passos encaminham descompassadamente o trinado das ideias ao sabor da areia que se escoa pelos interstícios dos dedos, tempo escoado em ilusórios registos, dissolução necessária para a reconstrução do templo que somos.
Huó xing 彗星 (cometa) iria passar próximo, como há sessenta mil anos, diziam os astrónomos, e todos foram ver o ponto vermelho. Eu fiquei em casa, mais por achar que não deveria embasbacar-me com estas questões do tempo.
No dia seguinte saí e, a matar saudades, dirigi-me a um jardim, velho conhecido, junto ao qual vivi nove anos, ouvindo, de manhã, a  conversa dos velhos e os pássaros a cantar, sombreados pela copa de centenárias árvores.
Nada mudara, nem mesmo as gaiolas. Olhei as raízes suspensas como lianas, subi a suave escadaria que dava para a gruta que não era, e fui- me sentar no terreiro ao lado, olhando os jogadores de xadrez e o rio que daí se avistava, silencioso e vago, cintilando pequenos sóis.
Ao lado estava um velho de barbas longas e lisas, fumando um cachimbo de água, os olhos perdidos no infinito, o cabelo rente ao crânio.
Olhámo-nos e sorriu-me, com a boca oculta no fumo do tabaco amarelo.
 Olá mano (1)! – saudou-me, naquele modo de dizer tipicamente de Macau.
 Ni hau! (como está) – retorqui sorrindo, por detrás da barba, também ela branqueando. Havia aí uma certa cumplicidade, como se tivéssemos a mesma idade, e o facto de falarmos um dialecto comum.
O ancião apresentou-se como sendo Shi  Wei  Ming.
Tinha  chegado  a  Macau  ainda  criança, e fitava-me enquanto a conversa se estabelecia. Sentia que os seus olhos me investigavam a idade, e eu adivinhava como conjugaria ele a falta de rugas com a cor da barba, código díspar do seu, onde a barba é adorno de ancião. Cuidadosamente evitou abordar o assunto. Tomou-me como seu par na idade, e eu senti-me honrado.
   Já foi ver o huó xing?
Olhei-o e reparei que não trazia relógio.
  Não – respondi. – Sei que está próximo, como só há sessenta mil anos, e isso basta-me.
Shi Wei Ming fitou-me, os olhos cerraram-se-lhe. Soltou outra baforada de fumo do cachimbo de bambu, a água gorgolejando, e de pronto iniciou um discurso que me surpreendeu:
  Desde a Idade Média que o Ocidente mantém duas visões do tempo: uma, escatológica, por isso teológica, e outra física, científica. A primeira advém do Cristianismo e da compreensão do tempo através da relação do homem com Deus, e da finitude desse tempo por via do juízo final. Está aqui o homem dependente do tempo divino, da data do juízo final, nunca divulgada. A visão científica do tempo exclui a existência humana da sua medida,   é acção objectiva e desapaixonada que meramente mede em métrica humana uma dimensão tornada física.
Deixei de perceber a língua em que falava, apenas me apercebia que o entendia.
Até  hoje, porém,  a  leitura  sobre  a  filosofia chinesa tem-se subordinado, pelo menos aqui na China, à perspectiva conceptual da metafísica tradicional do ocidente. Pouca importância parece dar-se à interpretação filosófica e histórica, numa perspectiva inteiramente chinesa do tempo.
  Antes da consolidação do Império de Qin Shi Huang, sobretudo no período anterior aos Estados Guerreiros, encontrar-se-á uma dimensão do tempo que apenas tem paralelo na construção do eidos grego.
Interrompeu-se para nova cachimbada, o tabaco finando-se.
  O tempo aludido na China antiga refere-se ao Tien Shi, o tempo celestial. Os milénios dizem-nos que o Mando da governação Celestial existe apenas no tempo, em subtil matriz. O I Qing (Livro das Transmutações) anuncia, por seu lado, como o céu e a terra se tornam plenos e vazios com o tempo. Não é o tempo das quatro estações nem o do calendário dos Xia ou dos Zhou. O Tao te Qing anuncia: “Havia algo de indeterminado antes do nascimento do Universo. Essa qualquer coisa voga sem cessar. Com um nome deve ser a Mãe do Universo, sem nome será o antepassado dos deuses. Como não lhe conheço o nome, chamo-lhe Tao” . (2)
O próprio tempo das  quatro estações chinesas é lunar, tem outra métrica. Liga-se intimamente com as transmutações do Yin e do Yang, dos oito trigramas, e dos cinco elementos, madeira, fogo, terra, metal e água. A mensurabilidade das manifestações do tempo não está sequer confinada ao que Zhou Yan disse sobre as rotações dos Cinco Poderes que reclama que a ascensão e queda das dinastias corresponde à ordenada sequência dos cinco elementos.
A lição prosseguia em tom coloquial, humilde, às vezes arrastado, os olhos cerrados, como se recitasse um Sutra.
  É contudo o livro das transmutações, o I Qing, aquele que exerce um conceito mais completo. Inicialmente os oito trigramas e os 64 hexagramas representam as transmutações. Os componentes mais simples são o Yin e o Yang, o lado mais escuro da montanha ou nebulosidade, e o lado mais radioso da montanha, ou uma abertura. Contudo, não simbolizam primordialmente dois tipos de entidades ou dois elementos materiais básicos do mundo. Os caracteres anunciam que ambos têm algo a ver com o sol, isto é, as faces de uma  montanha olhando o sol ou estando de costas para este. Por isso o livro diz: Yang e Yin comparam-se ao sol e à lua. Para os antigos o sol ou dia, e a lua  ou noite, são a origem do tempo que diz respeito à vida humana. Yin-Yang no I Qing significam primordialmente o encontro e interacção dos dois lados que tornam o tempo e a vida possível.
Fitou-me entre as pálpebras semicerradas, arrancando da garganta uma tosse que vinha do fundo.
Reconstituí de novo a citação que mais gostara: "sem nome, será o antepassado dos deuses".
Por breves momentos recuei ao nascer dos anos oitenta, quando na Sé Velha de Coimbra, a um canto, vi escrito: "deus, por modéstia, não existe".
E desses vinte anos, entre a juventude e a idade do meio, julguei perceber o quanto tudo é tão só um todo, mesmo quando nomeado inominável.
Shi Wei Ming limpava agora o rosto com a camisola, magro, quase esquálido. Remetera-se ao silêncio outra vez. Volveu o olhar para mim.
   Esta noite – disse-lhe – irei olhar a lua.
E prontamente recoloquei os óculos escuros e me afastei pensativo, fugindo à fulgurância do sol.
Pela primeira vez, desde há muito, ouvi uma cigarra cantar, escondida numa das centenárias copas de árvore, certo de que o divino nem sempre se manifesta como esperamos.


(1) Leia-se máno, forma cortês com que os chineses de Macau tratavam os amigos portugueses.
(2)Tao, Via, Caminho.

Thursday, October 25, 2018

AS QUATRO NOBRES VERDADES

TUDO O QUE SOMOS RESULTA DE TUDO O QUE PENSAMOS


"Eu ensino o sofrimento, a sua origem, a sua cessação e o caminho. Isto é tudo o que ensino", declarou Buda (o que atingiu a Iluminação) há 2.500 anos.
As Quatro Nobres Verdades contêm a essência dos ensinamentos de Buda. Foram esses quatro princípios que o Buda veio a entender durante sua meditação sob a figueira onde atingiu a iluminação.
A verdade do sofrimento (Dukkha)
A verdade da origem do sofrimento (Samudaya)
A verdade da cessação do sofrimento (Nirodha)
A verdade do caminho para a cessação do sofrimento (Magga)
O Buda é frequentemente comparado a um médico. Nas duas primeiras Nobres Verdades ele diagnosticou o problema (sofrimento) e identificou sua causa. A terceira nobre verdade é a percepção de que existe uma cura.
A quarta Nobre Verdade, na qual o Buda estabeleceu o Caminho Óctuplo, é a prescrição, o caminho para se libertar do sofrimento.
A primeira nobre verdade 
Sofrimento (Dukkha)
O sofrimento vem em muitas formas. Três tipos óbvios de sofrimento correspondem às três primeiras visões que Buda viu em sua primeira viagem fora de seu palácio: velhice, doença e morte.
Mas, de acordo com o Buda, o problema do sofrimento é muito mais profundo. A vida não é ideal: ela frequentemente falha em corresponder às nossas expectativas.
Os seres humanos estão sujeitos a desejos e desejos, mas mesmo quando somos capazes de satisfazê-los, a satisfação é apenas temporária. O prazer não dura; ou se isso acontecer, torna-se monótono.
Mesmo quando não sofremos de causas externas como doença ou luto, estamos insatisfeitos. Essa é a verdade do sofrimento.
Algumas pessoas que se defrontam com este ensinamento acharão porventura isto uma visão pessimista. Os budistas não acham nem optimista nem pessimista, mas realista. Felizmente, os ensinamentos do Buda não terminam com o sofrimento; em vez disso, Buda diz-nos o que podemos fazer e como terminar com o sofrimento.

A segunda nobre verdade
A origem do sofrimento (Samudaya)
Os nossos problemas do quotidiano podem parecer ter causas facilmente identificáveis: sede, dor por uma lesão, tristeza pela perda de um ente querido. Na segunda das suas Nobres Verdades, porém, o Buda afirmou ter encontrado a causa de todo sofrimento - e está muito mais profundamente enraizado do que as nossas preocupações imediatas.
Buda ensinou que a raiz de todo sofrimento é o desejo, tanhā. Isto vem em três formas, que ele descreveu como as Três Raízes do Mal, os Três Fogos, ou os Três Venenos.
Um pássaro, uma cobra e um porco mostrado correndo num círculo, cada um segurando a cauda do próximo na sua boca. Os Três Fogos do ódio, da ganância e da ignorância, mostrados num círculo, cada um reforçando os outros. As três raízes do mal.
Estas são as três causas finais do sofrimento:
Ganância e desejo, representados na arte por um galo
Ignorância ou ilusão, representada por um porco
Ódio e impulsos destrutivos, representados por uma cobra

Nota de linguagem: Tanhā é um termo em pali, a linguagem das escrituras budistas, que significa especificamente desejo ou desejo deslocado. Os budistas reconhecem que pode haver desejos positivos, como desejo de iluminação e bons desejos para os outros. Um termo neutro para tais desejos é chanda.

O Buda passou a dizer o mesmo dos outros quatro sentidos, e a mente, mostrando que o apego às sensações e pensamentos positivos, negativos e neutros é a causa do sofrimento. No budismo Zen  temos o mushin, a não-mente, um estado de consciência onde as emoções e pensamentos deixam de caber.

A terceira nobre verdade
Cessação do sofrimento (Nirodha)
Buda ensinou que o modo de extinguir o desejo, a causa do sofrimento, é libertarmo-nos do apego que temos às coisas materiais.
Esta é a terceira nobre verdade - a possibilidade de libertação.
Buda foi um exemplo vivo de que isso é possível no decurso de uma vida.

Quando um nobre seguidor que ouviu (a verdade) vê assim, ele encontra estranheza nos olhos, nas formas, encontra estranheza na consciência do olho, encontra estranheza no contacto visual, e tudo o que é sentido como agradável ou doloroso ou nem doloroso nem agradável que surja com o contacto visual, também nisso ele encontra alienação.

O Sermão do Fogo 
"Estranheza" aqui significa desencanto: um budista pretende conhecer as condições dos sentidos claramente como estão, sem ficar encantado ou iludido por elas.
Nirvana
Nirvana significa extinção. Alcançar o nirvana - alcançar a iluminação - significa extinguir os três fogos da ganância, da ilusão e do ódio.
Alguém que atinge o nirvana não desaparece imediatamente para um reino celestial. O nirvana é melhor entendido como um estado mental que os humanos podem alcançar. É um estado de profunda alegria espiritual, sem emoções negativas e medos.
Alguém que alcançou a iluminação está cheio de compaixão por todas as coisas vivas.
Quando alguém encontra o estranhamento, a paixão desaparece. Com o desvanecimento da paixão, ele é libertado. Quando libertado, há a consciência disso. Ele entende: "O nascimento está exausto, a vida santa foi vivida, o que pode ser feito é feito, nada mais há a fazer".

Depois da morte, uma pessoa iluminada é libertada do ciclo de renascimento, mas o budismo não dá respostas definitivas sobre o que acontece a seguir.
Buda desencorajou os seus seguidores de fazerem muitas perguntas sobre o nirvana. Ele queria que eles se concentrassem na tarefa em mãos, que era o de se libertarem do ciclo de sofrimento. Fazer perguntas é como discutir com o médico que está tentando salvar a nossa vida.

A quarta nobre verdade
Caminho para a cessação do sofrimento (Magga)
A Verdade Nobre final é a prescrição do Buda para o fim do sofrimento. Este é um conjunto de princípios chamado Caminho Óctuplo.
O Caminho Óctuplo também é chamado de Caminho do Meio: evita tanto a indulgência quanto o ascetismo severo, nenhum dos quais o Buda achou útil na sua busca pela iluminação.
Símbolo de roda dourada de oito raios A roda do Dharma, o símbolo do caminho de oito pontos.



As oito divisões
Os oito estágios não devem ser seguidos por ordem, antes devem apoiar-se uns nos outros:
Entendimento Correto - Sammā ditthi
Aceitando os ensinamentos budistas. (Buda nunca pretendeu que os seus seguidores acreditassem nos seus ensinamentos cegamente, antes encorajou-os a praticá-los e julgarem por si mesmos se eram verdadeiros.)
Intenção Certa - Sammā san̄kappa
Um compromisso de cultivar as atitudes correctas.
Discurso Sincero - Sammā vācā
Falando com sinceridade, evitando calúnias e discursos abusivos.
Acção Correcta - Sammā kammanta
Comportar-se pacifica e harmoniosamente; abstendo-se de roubar, matar e abuso do prazer sensual.
Modo de vida correcto - Sammā ājīva
Evitar ganhar a vida de maneiras que causem danos, como explorar pessoas ou matar animais, ou negociar intoxicantes ou armas.
Esforço Correcto - Sammā vāyāma
Cultivando estados mentais positivos; libertando-se do mal e estados prejudiciais e impedindo-os de surgirem no futuro.
Atenção correcta - Sammā sati
Desenvolver a consciência do corpo, das sensações, dos sentimentos e dos nossos estados mentais.
Concentração Correcta - Sammā samādhi
Desenvolver o foco mental necessário para essa consciência.

Os oito estágios podem ser agrupados em Sabedoria (compreensão e intenção corretas), Conduta Ética (discurso correcto, acção e subsistência) e Meditação (esforço correcto, atenção plena e concentração).
Buda descreveu o Caminho Óctuplo como um meio para a iluminação, como uma balsa para atravessar um rio, sendo a travessia o caminho. 

Sermão do Fogo
Há na vida do príncipe Gauthama, o Buda, um pronunciamento notável: o Sermão do Fogo.
Referindo-se aos sentidos, ele diz que tudo está em fogo. O fogo necessita de matéria combustível de onde suga o necessário para a sua combustão. Quando não existe o que alimentar o fogo, este apaga-se. É desta sucção do sermão do Fogo de Buda, que deriva o termo Nirvana que tanta gente usa sem saber o que realmente significa.
Nirvana é uma palavra composta por Nir = isenção ou remoção de, e Vana= puxar, sorver. Sendo assim, desde o momento em que nos sentidos não houver mais o que sorver, emergirá o Nirvana. E Buda continua o seu sermão enfatizando insistentemente outro termo: equanimidade, ou seja, isenção de emoções. Para ele, emoção é a manifestação dos sentidos.
Nota: No Budismo Zen, por meio da meditação orientada, atinge-se o mu-shin, isto é, a não-mente, aquela que está despida de emoções e de pensamentos, elevando-se a mente a um outro grau de consciência.

Prosseguindo neste encadeamento, Buda discorre indicando que existem no nosso corpo, as sedes dos sentidos, que ele chama “Nidanas”, e estas devem ao longo da vida ser acalmadas inteiramente.

Qual o sentimento que mais sorve? Ora, como você já deve ter intuído, é aquele chamado de “preservação da espécie”, ou seja, o desejo sexual. É um desejo bom, sublime até, desde que não conspurcado pelo simples desejo de “prazer”.
Buda prossegue ensinando no mais simples e claro sentido da realidade humana, que o corpo é templo do Espírito, entendido como centelha divina, por si só perfeito porque é parte de Deus, manchado apenas pela ganga (mistura) dos sentidos mal dirigidos, tão comumente submetidos às nossas contingências humanas, às vezes em grau tão rudimentar.

Equanimidade, diz Buda. Equanimidade, ou seja, serenidade, imparcialidade, ponderação, prudência, equidade no julgar e no agir.
Cada um tem que trilhar o seu próprio caminho, e cada caminho leva a um estado de crescimento espiritual, próprio de cada um, de acordo com o plano de Deus para cada um. Buda vai usar os termos “Karma” e “Missão”, dois expoentes da vida de cada ser humano, sendo por isso que não há dois karmas ou duas missões iguais, e também porque o fiel da balança se chama “livre arbítrio”. Cada um é cada um, no entanto, em última análise, todos caminham pelo seu próprio caminho ao encontro do mesmo “Alvo”, que a todos aguarda, não olhando o caminho mas prestando atenção ao caminhante!
Este “Alvo” para o qual caminhamos já está em nós e vive em nós. Um dia, perseverando, acontecerá aquela fusão maravilhosa quando O alcançarmos... A fusão da gota d´água que mergulha e é absorvida pelo Oceano.
Para o alcançarmos é necessário a nossa remoção do mundo e o encontro connosco, através do qual poderemos ir encarando o nosso mundo ilusório. 

Nota
Dharma, ou darma, é uma palavra em sânscrito que significa aquilo que mantém elevado. Também é entendido como a missão de vida, o que a pessoa veio ao mundo fazer.
A raiz dhr na língua antiga do sânscrito significa suporte. Mas a palavra encontra significados mais complexos e profundos quando aplicada à filosofia budista e à prática do Yoga. 
Não existe correspondência ou tradução exacta de dharma para as línguas ocidentais.
O Dharma budista diz respeito aos ensinamentos do Buda Gautama, e é uma espécie de guia para a pessoa alcançar a verdade e a compreensão da vida. Pode ser chamado também de "lei natural" ou "lei cósmica".

Os sábios orientais pregam que a forma mais fácil de alguém se conectar com o universo e a energia cósmica é seguir as leis da própria natureza, e não ir contra elas. Respeitar os seus movimentos e fluir conforme a lei natural indica. Isto faz parte da vivência do dharma.
Perceber e viver de acordo com o seu próprio dharma é a chave para a iluminação, para uma vida plena. É também associado à capacidade de um ser prestar um serviço aos outros. Então aceitar e trabalhar o seu dharma é uma forma de servir os outros, conduzindo também à conexão com o universo.
Uma das formas de desenvolver o dharma é com a prática da meditação, para que o indivíduo se coloque em contacto com os sentidos. Outra forma é com a prática do antiquíssimo Yoga.

No Yoga, o dharma é a essência da existência baseada na verdade. E o dharma pode ser transmitido do mestre para o discípulo de for o caso de haver uma passagem de compreensão entre um e outro/s.

Wednesday, October 10, 2018

A TRANSCENDENTE ANCESTRALIDADE DO FOGO

E Jeová formou o homem do pó do solo, moldou-o, e soprando nele o fôlego de vida,o tornou um ser.(1)
Livro do Génesis, Antigo Testamento.
(1) Recordemo-nos que Jeová aparece a Moshe (Moisés) sob a forma de um arbusto ardendo.


Ao golpearem as suas forjas, os ferreiros imitam o gesto primordial do deus forte; são, na verdade, As suas extensões, toda a mitologia tecida em torno da fertilidade agrária, da metalurgia e do trabalho é, porém, de origem relativamente recente. Proveniente de data mais tardia do que a olaria e agricultura, a metalurgia encontra-se no quadro de um universo espiritual onde o deus celeste, que ainda estava presente nas fases etnológicas da recolecção de alimentos e caça de animais de pequeno porte, é finalmente banido pelo Deus forte, o Macho fertilizador, esposo da Grande Mãe Terrestre.

Mircea Eliade • A Forja e o Cadinho

O Arquétipo e a Essência
Quando, há milhares de anos o ferro de meteoritos começou a ser usado, sendo trabalhado com sílex, era considerado uma dádiva dos deuses, face à sua origem celestial.
Não se sabia ainda quanto tempo duraria a Idade do Ferro, unindo milénios de história até aos nossos dias, provavelmente de um modo tão inconsciente que a maioria desconhece o período pelo qual aquela se estende.
A emergência da manipulação do fogo na história da humanidade trouxe uma lenta, mas consistente, percepção da sua essência.
À medida que as artes do fogo se desenvolveram, nomeadamente a primeira cerâmica, tornou-se mais intensa a ligação com o fogo graças ao processo de descoberta, no útero da Mãe-Terra e a ousadia na extracção de minérios e manipulação de uma liga não ferrosa composta de cobre e zinco, designada por bronze.

As propriedades sagradas de transmutação do fogo eram já conhecidas e mesmo adoradas em muitas culturas, à medida que se descobriam minérios de ferro. Ainda hoje o fogo é, em diversas culturas o modo como se transferem símbolos de bens materiais para outra dimensão.

Os ferreiros, manipuladores do imateral fogo e do ferro, passaram a ser investidos de identidades sagradas pois pertenciam ao grupo restrito daqueles que ousavam desafiar as tremendas forças da Natureza vindas das entranhas da Mãe Terra, combinando-as com os poderes de transmutação do fogo aprendidos nos fornos dos oleiros.
Do trabalho do ferro surgiram duas ramificações: a das alfaias agrícolas e a das armas de gume. Se, por seu lado, as alfaias agrícolas conheceram um desenvolvimento bastante anónimo, a forma principal das armas de gume, a espada, transformou-se num arquétipo histórico, comum a todas as culturas.
O momento em que a futurea espada é idêntica ao magma da Terra
No entanto, poucos saberiam à época, quão próximo se encontravam da essência da verdade quando aos ferreiros foi conferido um estatuto especial – algumas culturas exigindo que o ferreiro vivesse à parte da comunidade e não fosse circuncidado de modo a, assim, poder possuir a força feminina e a força masculina – que lhe permitia lidar com esses poderosos elementos. Na verdade, o forjar do ferro não é mais do que uma recriação do âmago da Terra, uma gigantesca fornalha de ferro derretido cheio de propriedades magnéticas que asseguram, ao mesmo tempo, a gravidade e os campos magnéticos que protegem o planeta. 

Estas culturas arcaicas estavam, de facto, a recorrer a linguagens diferentes para chegar à mesma verdade: as forças que sustentam a vida. Por outras palavras, de cada vez que um ferreiro forja uma espada está a recriar, na sua forja, a essência da Terra, oculta sob a crosta e o manto. Ao fazê-lo, mesmo sem o saber, lida com a transcendência.
O que espanta é que, no século XXI existamos assentes em outras realidades, seguramente mais banais.

O fogo, os elementos e o aço
Geralmente, considera-se que o ferro começou a ser usado na China por volta do século XIII A.C., de acordo com algumas escavações em Xingjian, onde foram descobertos numerosos artefactos de ferro em túmulos, submetidos a datação através de carbono 14. No entanto, foram descobertas provas da existência de ferro meteórico forjado em gumes apostos a machados de bronze originários dos períodos Shang e Zhou.
No entanto examinemos, por um momento, os cinco elementos tais como foram formulados pela civilização chinesa: fogo, madeira, metal, água e terra, ao mesmo tempo que mantemos presentes os principais elementos da força magnética, os pólos positivo e negativo.
A descoberta do aço encarna em si a essência de todos os cinco elementos: o fogo enquanto agente de transmutação, a madeira enquanto fornecedora de fogo, o metal enquanto elemento a ser transformado, a água enquanto agente alquímico final do aço e a terra enquanto fonte-útero.

Só quem já admirou o aço a ser aquecido ao rubro durante a noite, revelando os seus segredos a olhos conhecedores, poderá compreender o incrível processo de transformação que o metal incandescente sofre ao ser imerso em água, encontro dos opostos para um nascimento.

Toda a estrutura molecular se altera sob o choque do Yang incandescente entrando na receptiva água Yin. De novo é a criação recreada pela fusão das partes numa totalidade que é agora denominada aço. Yang e Yin, ou pólos positivos e negativos que geram energia magnética, fundem-se num metal novo cuja aparência, à medida que arrefece lentamente, pode comparar-se com as múltiplas aderências orgânicas com as quais um recém-nascido vem ao mundo.
Nesse sentido, o ferreiro é tanto um procriador como um re-encenador, sendo a seu modo, um alquimista que, talvez o único de entre todos, conseguirá compreender o acto da criação através da manipulação das forças primordiais do Masculino e do Feminino.

A espada, o símbolo e preconceitos 

Não há dúvida de que a espada de aço foi uma das armas mais duradouras da história da humanidade, um símbolo de poder, de destruição, mas também dos valores mais fundamentais e das mais temidas manifestações da humanidade, tais como a honra, coragem, lealdade e justiça, por um lado, e, por outro, da crueldade, da traição e da cobardia.
Desta inevitável dualidade, porém, o arquétipo que emerge é o de espadas que encarnam míticas atribuições de poder, como na lenda celta de Manaan, da Excalibur do Rei Artur, da Espada de Dâmocles, da Espada Flamejante do Arcanjo São Gabriel, da Espada Taoista de Captura de Demónios e, por último mas não de menor relevância, a Espada que a Estátua da Justiça segura.



Hoje em dia, as espadas são objectos cerimoniais e anacrónicos, parte de um passado longínquo, mas nem por isso destituídas de valor intrínseco, simbólico e transcendente. 
Para além da elaborada tecnologia de que possa estar imbuída, tenhamos presente de que o termo ‘tecnologia’ provém da palavra grega techne, que não se refere somente às actividades e capacidades dos artífices, como também às artes da mente e às artes .
Como tal, à medida que o mundo se altera, o conceito tradicional de arte enquanto “imutável, nacionalista, superior ou inferior e estritamente definido” dá lugar a uma perspectiva dinâmica e em alargamento constante pela qual o conceito de arte regressa à sua abertura conceptual original e, como sempre, sob uma nova visão.
Vivemos num tempo da história da humanidade em que não pode haver mais lugar a preconceitos nem a divisões das artes em superiores e inferiores.
Assim, actualmente, dever-se-ia olhar a espada como um objecto de arte, tal como está presente em museus por todo o mundo, frequentados por 80 milhões de visitantes. A espada não perdeu a sua transcendência, no mundo onde tudo o que se desconhece deixa de ter relevância.
Perdem todos, perde a humanidade que olha para quase tudo superficialmente, conduzida a interessar-se de sobremaneira pelo consumo.

Thursday, October 4, 2018

AS MARGENS DO CENTRO - ESCRITO DE 1990s



O LIVRO DA ÁGUA
A linguagem não se estende para explicar a Via em detalhe, mas pode ser absorvida intuitivamente. Estudem este livro, leiam uma palavra e sobre ela ponderem. Se interpretarem o significado de uma forma incorrecta enganar-se-ão na Via. (…) 
Miyamoto Musashi
Séc. XVII – Período Tokugawa
GO RIN NO SHO (O Livro dos Cinco Círculos)

A mais valia de um povo não reside nem no oficial nem no oficioso, porque geometricamente falando, é o círculo que determina a existência do seu centro e não propriamente o contrário. Ainda que o centro teime em ser a origem do círculo, teima antiga e permanentemente equidistante, rodando sobre si própria desde a invenção da roda, num permanente e rotativo conflito com a margem.

Diz porém o Tao te Qing que trinta raios convergem para o centro da roda, mas é do vazio do seu centro que depende o seu uso. Verdade pouco apetecível ou mesmo inconveniente a ocidente, onde a razão tomou outros rumos, já o Tao te Qing era antigo e venerado. Não será fácil explicar este sentido do vazio, comum ao taoísmo e ao budismo, como o estado despojado, que apetece chamar de sintonia total com o Universo, ele também enorme vazio aparente, em permanente movimento.

Afasta-se o homem do todo universal quando se insere no contexto da corrida humana, da ambição pela ilusão das aparências, sempre contraditórias, procurando sofregamente um lugar ao sol, sem ter de olhar, a esse outro círculo, invisível de tanta visibilidade incandescente, incapaz de perceber a virtude do vazio e das margens.

Daí a equidistância impermanente entre centro e círculo, entre centro e cada ponto da circunferência tornada elíptica, local de fronteira, margem de trânsito entre verdades diversas, sempre ilusórias porque, integrado na ilusão, o homem não se vê nem se verá jamais senão por interposto espelho, reflexo simétrico de si mesmo, mais uma vez inversa a imagem.

Deste verso e reverso se retirarão sempre reflexões várias, concêntricas de centros diversos, pelo menos de dois. Um que se vai, outro que chega na inexorabilidade do tempo e das coisas já dispostas, outras tantas por discutir, centro a centro, sem margens. Nestas, apenas a rígida distância de um raio obsessivamente igual, apenas raio e não infelizmente ponte. 

É contudo nas margens que as trocas se operam, que o primado da inovação e do primo poder de saberes vários se formula no perímetro da circunferência marginal.

De toda esta geometrizada reflexão ressalta a percepção de que sem pontes, isolados ficam os centros, perfurados pelo aço do compasso, cada círculo uma cidade, a que se tem, a que se deseja, a que virá.

Daí que se retome agora e sempre a questão da Cidade, espaço físico e espiritual onde tudo se joga, entre o o claro e o escuro, na luz e na penumbra, estratos de vidas diversas, ideologia a haver.

Círculo ou quadratura, a cidade é espaço vivo, onde o diálogo da afabilidade tem de ter lugar, porque um legado é um império de afectos, um reino de sentidos tonificados por um outro, supremo, de identidade e pertença. Nenhum governo, nenhum país, ninguém deve alterar o curso histórico duma Cidade, em nome de quaisquer valores outros que não os da própria Polis. Nenhuma Pátria se enriquece mais do que no estímulo da sua diversidade cultural, urbana, mesmo civilizacional, sobretudo num momento em que a conjugação dos mundos ocidental e oriental emerge como forte discurso do futuro. Porque além disso, a história não se nega, e se o que está feito é uma verdade, o haver não pode de todo significar rotura, nem assim está consagrado, nem o bom senso o recomenda.

Não existe nenhuma razão mais forte que a Guerra do Ópio, de que não participámos, que justifique uma outra qualquer vontade que não a acordada, emergente de um desejo surdo de erradicação de uma história de 450 anos, onde o Extremo do Ocidente viveu paredes meias com o Extremo do Oriente. A política, com todas as suas habilidades, tem de entender minimamente a história.

Cada vez mais se configura como primado ideológico por excelência, a linguagem cultural, alternativa a qualquer outra de raíz política. Cada vez mais é necessário que os homens se mantenham iguais nas suas crenças e nos seus afectos, porque se a política tem inflexões, as suas origens pressentem-se na cortina que translucidamente as oculta. 

Nesta cidade de milhentas histórias que o rio traz, contemplam-se as inflexões dos homens que de uma teta beberam para a outra se virarem, acotovelando-se em atropelo, cada qual procurando mudar depressa a fatiota, que de meros interesses se trata que não de outros nomes em vão invocados.

Numa sociedade com uma história bem mais antiga que a maior potência mundial do momento, não se pode permitir que ao homem e ao cidadão lhe seja dado o medo, porque uma sociedade não pode viver senão da relação plena, sem fugas. Sobretudo se o sinal de alarme é dado por quem se sentou a uma mesa, e agora a duas se senta, súbita ubiquidade incontornavelmente intolerante. Os homens conhecem-se quando a verdade da hora se aproxima. Há séculos que assim é. 

Para mais, uma cidade como Macau não é, definitivamente, uma fugacidade. Nenhuma cidade existe ou subsiste sem Memória, tanto quanto nenhum homem é adulto sem ter sido criança.

Pensar transformar a Memória viva, multisecular, de convivência e intervivência numa periferia de uma outra qualquer cidade destituída de tempo, é inverter necessariamente as fontes de irradiação de Memória e de saberes, tanto quanto o não entendimento de que as virtualidades da hibridez cultural de Macau constituem, por excelência, a negação da diferença enriquecedora. Se ao longo de mais de quatro séculos se cometeram erros, não é na repetição simétrica dos mesmos que se redime coisa alguma. Até porque, sobre os verdadeiros patriotas, dizia um velho amigo sábio, que era mais difícil viver pela Pátria do que morrer por ela. Razão pela qual se reforça a necessidade de uma ideologia cultural e ética onde a palavra não seja um mero eufemismo, mas um empenho da honra.

Assim, quando se aproxima a hora de um círculo dar lugar a outro ocorre perguntar. Será que, de desentendimentos, estamos entendidos?

Saturday, April 21, 2018

ESSENCIALIDADE - ESSENTIALITY



Há muito tempo escrevi, não sei já onde, que Macau é o palco para todos os sonhos e ficções. O importante era saber construí-los. Talvez não tenha sido claro, pois há nisto um quê de indecifrável.
Contudo ontem assisti ao espectáculo comemorativo dos 20 Anos da Escola Portuguesa de Macau e, à medida que se ia desenrolando, o aroma que exalava era o do sonho a cumprir-se, aquele onde se percebe a essência de Macau.
Cinquenta e quatro nacionalidades cabem em quinhentos e muitos alunos naquela Escola, por certo a melhor de Macau e, talvez, de Portugal. 
Na viagem que foi o espectáculo, patenteou-se a quem assistiu, a criatividade, a boa disposição, o talento de que tanto se fala, a amizade que une, a solidariedade que permite o colectivo, a inclusão que iguala, e tantas outras qualidades que se assumem como exemplo para todos.
O que se viu da essência de Macau foi não apenas a multiculturalidade - convivência de culturas - mas, e sobretudo, a interculturalidade (1), questão fundamental para a emergência de um mundo mais vasto e melhor porque mais sabedor e mais tolerante para com o(s) Outro(s).
Cabe aqui falar dos que habitam Macau, que na EPM são, como já se disse, 54 nacionalidades e outros tantos componentes genéticos. 
O espectáculo de três horas levou-nos a recordar o que é indeclinável e óbvio, mas tantas vezes esquecido: é que desde quinhentos que os portugueses se misturaram com outros povos numa épica viagem por África, Brasil, Índia, Malaca, Reino do Sião, China e Japão. 
Foi, enfim, uma lição dada pelos alunos, dos mais pequeninos aos mais velhos, prontos para partir para a Universidade. Todos eles falarão correntemente mais do que uma língua, terão visto muito mais de diverso, terão ganho uma tolerância muito maior para com a diferença, e possuirão um hábito para conjugar o excelente. 
Esta a essencialidade de Macau, a propensão para o mundo e para a excelência.
Parabéns Escola Portuguesa de Macau!!!


(1) A interculturalidade é a interacção de uma forma sinérgica entre duas ou mais culturas. Para tal, nenhum dos grupos se deve encontrar acima de qualquer outro que seja, favorecendo assim a integração e a convivência entre pessoas.




A long time ago I wrote, have forgotten where, that Macau is the stage for all dreams and fictions. The important thing was/is to know how to build them. Perhaps it has not been clear for, in this, there's an indecipherable thing.
Yesterday I attended the show commemorating the 20th anniversary of the Portuguese School of Macau and, as it unfolded, the aroma that exhaled was the dream to be fulfilled, the one where the essence of Macau can be perceived.
Fifty-four nationalities fit into five hundred and many students at that School, certainly the best of Macau and, perhaps, of Portugal.
In the journey that the show was, it was patented to those who attended, the creativity, the good disposition, the talent of which so much is spoken, the friendship that unites, the solidarity that allows the collective, the inclusion that matches, and many other qualities which should be learnt by all.
What was seen of the essence of Macao was not only multiculturalism - coexistence of cultures - but, above all, interculturalism(1), a fundamental issue for the emergence of a wider and better world because more knowledgeable and more tolerant of the (Others).
It is important to mention those who live in Macao, who, as has already been said, are nationalities and other genetic components.
The three-hour show led us to recall what is indeclinable and obvious but so often forgotten: that since five hundred years the Portuguese mingled with other people on an epic journey through Africa, Brazil, India, Malacca, Kingdom of Siam , China and Japan.
It was, finally, a lesson given by the students, from the smallest to the oldest, ready to leave for the University. They will speak fluently more than one language, have seen much more of diverse, gained a greater tolerance for difference, and will have a habit to combine the excellent.
This is the essence of Macau, the propensity for the world and for excellence.
Congratulations Portuguese School of Macau !!!



(1) Interculturalism is the interaction of a synergistic form between two or more cultures. To this end, none of the groups should be above any other, favoring the integration and coexistence between people.


A DIMINUIÇÃO DO QI, O EMPOBRECIMENTO DA LINGUAGEM E A RUÍNA DO PENSAMENTO.

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