Thursday, October 15, 2020

A LUZ E O SILÊNCIO

Este é o meu presente. O futuro não existe senão como uma luz indefinida, brumosa e difusa. É assim que vejo o futuro. Mas adquiri, desde que fui exposto à Luz Primordial, a que chamei de "Primum Lumen", uma maior atenção ao que é luminescente, ao que produz luz. 

Associo a luz ao silêncio, porque a luz não tem som, nem matéria. 

Acho que vivemos num mundo ruidoso, com mais ruídos que sons, por isso o silêncio torna-se imperativo. O silêncio serena, o silêncio opera o reencontro connosco. Só nós existimos individualmente.

Ao pensar nisto, a memória leva-me ao tempo em que tinha consciência de que era ocidental em Macau e oriental no Ocidente. A isso eu chamo a minha maneira de ser macaense, de me exercer (essa duplicidade cultural), desses dois olhares que me conduziram e conduzem a uma natural diferença de ser que sinto em relação ao ambiente em que, em cada momento, existo.  

O que faço? Existo, pura e simplesmente. 

Isto é, tento habitar-me permanentemente, sem a premência do fazer. Fazer, criar, já não são urgências para mim. Não sinto necessidade de criar, no conceito tradicional, embora a existência, quando vazia, seja o melhor espaço para a criação. 



Talvez hoje perceba o idoso português no banco do jardim olhando para o vago, por oposição ao idoso chinês que pratica Tai Qi e ouve o canto do pássaro que leva numa gaiola. 

Tenho, felizmente, onde me sentar em silêncio, e tenho uma bela gaiola chinesa, mas recuso-me a ter um pássaro lá dentro...


Existir é fruir o silêncio a que me devoto, é discorrer pelo tempo de cada dia, a mente vaga, para ser perpassada por pensamentos e ideias que talvez deixem rasto para um dia...


Cada um de nós habita-se. Estamos condenados a essa solidão, que a mim me não apoquenta, antes me dá o espaço para respirar e, então, poder coabitar, falar,  amar.

Ainda sou vagamente novo, a sabedoria exige de mim ponderação, tempo de reflexão, silêncio. 


Olho e constato que sempre fui um estranho ou um estrangeiro nos lugares que habitei, porque sempre me reclinei para o lado oposto, para nele encontrar, talvez, um entendimento mais profundo. É o entrelaçar dos dedos, o vazio do Yin acolhendo os dedos Yang. 


A luz encontrou-me, ou será que eu encontrei a luz, aqui, numa madrugada de 2006? Houve um encontro, algo de sublime, talvez mesmo sobrenatural, alquímico. A definição não importa quando, por fim, julgamos entender a essência das coisas, o firmamento numa parede, vibrações de energia, a luz a falar. 

Mas é apenas uma suspeita, nada mais...



A DIMINUIÇÃO DO QI, O EMPOBRECIMENTO DA LINGUAGEM E A RUÍNA DO PENSAMENTO.

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