Wednesday, April 14, 2021

O PRINCÍPIO DO VAZIO

 

Tenho gravado da memória que foi em 1968 que me encontrei com um livrinho que ainda tenho, chamado Tao Te Qing, (陶德慶) encontro esse havido numa estante da Livraria Bertrand, no Chiado.

Foi um encontro magnífico – eu que vinha da China, de uma China aportuguesada – e que provou ser uma revelação para mim, aquela capa onde, por desconhecimento do autor da mesma, estava desenhada a representação de Buda Sakyamuni. 

Dentro, há 53 anos, retive algumas estrofes, que se me gravaram no espírito, desse livro escrito entre 350 a 250 a.C.:

"Havia algo de indeterminado antes do nascimento do Universo.
Essa qualquer coisa, voga sem cessar.
Como não lhe conheço o nome, chamo-lhe Tao (Caminho, Via).
Sem um nome deve ser a Mãe do Universo.
Com um nome é o Antepassado dos deuses."

O livro fala da realidade Universal e está de acordo com o termo 天下 (tien hsia) que embora signifique "sob o céu", se refere ao mundo em geral.

Lá dentro, na estante, abriu-se-me uma outra realidade, que me deixou enlevado perante o óbvio nunca antes revelado:

"Uma casa é feita de paredes, portas e janelas.
Porém é do vazio interior que depende o seu uso"

"Trinta raios de uma roda convergem para o seu meio.
Porém é do vazio central que depende o seu uso".


Atribuído a Lao Tse, e escrito antes de abandonar Luoyang, conforme reza a lenda, o Tao Te Qing origina não só o Taoísmo, como faz nascer o termo Tao 
陶, que significa Via ou Caminho, um princípio de vida que deveria acompanhar todos aqueles que buscam aperfeiçoar-se nos princípios da sabedoria, do conhecimento e da rectidão.

Também por isso o Vazio é importante. Um homem (mulher) que seja como uma tigela cheia, jamais poderá avançar, porque já nele nada mais cabe. Por isso, para que a Via ou o Caminho se inicie é preciso que mantenhamos a nossa tigela permanentemente vazia, para que cada ser humano possa progredir.

Os chineses chamam de Sá Chan (沙塵) os enfatuados e os vaidosos, porque são areia e pó. Para eles o poder é o objectivo, esquecidos de que a vida é uma jornada onde tudo é ilusório e passageiro, embora em tantos casos a ilusão persista.

Por isso, seguir uma Via ou Caminho, Tao ou o nipónico Dô, é seguir o caminho do aperfeiçoamento pessoal, já que, querer converter ou aperfeiçoar os outros é pura ilusão.

Cabe a cada um sentir o chamamento, ou não. Porque, como diria muito mais tarde um Mestre japonês, "muitos são os caminhos que conduzem ao topo do Monte Fuji, mas a lua que de lá se vê é a mesma".






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