Saturday, June 19, 2021

OS PARDAIS E O MILHO

O PRIMEIRO MILHO

Em 2016, em Paris, com um golo de Éder, tornamo-nos Campeões da Europa.

Aquilo encheu-nos de orgulho. No século XXI tínhamos conseguido o almejado título depois do falhanço de Eusébio e da linha avançada do Benfica, no mundial de 1966. Foram precisos 55 anos para conquistarmos, internacionalmente um título.

Ontem – porque é sempre bom dormir sobre o assunto – entusiasmados pela vitória sobre a Hungria, enfrentámos a Alemanha, a quem pedíamos meças, recordados do hat trick de Sérgio Conceição.

Mas como diz o ditado, “jogam onze contra onze e no fim quem ganha é a Alemanha”, ditado quase tão fatal como o destino.

Porém este resultado despertou em mim o desejo de uma melhor compreensão, porquanto me recordei do documentário sobre o modo como os germânicos renovaram o seu futebol, coisa que por cá continua pelas academias e para as calendas. 

Depois vem a questão do consumo. Nós temos viveiros com pardalitos jeitosos que, mal dão sinal de si, são comprados por valores de saldo pelos poderosos europeus. Assim aconteceu com Ronaldo, Diogo Jota, João Félix, Bernardo Silva, Bruno Fernandes, André Silva, Ruben Dias, Ruben Neves, João Moutinho, Gonçalo Guedes, João Cancelo, Rui Patrício, Danilo, William Carvalho, nomes “estrangeiros” que por si comporiam a selecção. 

Em resumo, somos um país “criador-exportador” que vive dos primeiros lucros. Depois, os pardais, nos novos ninhos, voam alto.  Não temos capacidade de fixar os melhores nem de ter uma Liga de qualidade.


Analisemos assim alguns dados que considero relevantes:

O salário mínimo nacional de alguns países europeus é o seguinte:

Portugal       740 euros

Espanha    1.050 euros

França       1.539 euros

Alemanha 1.609 euros

Hungria        487 euros


Em termos de população temos:

Portugal     10.2 milhões

França        67    milhões

Alemanha   83    milhões

Hungria        9.7 milhões


Por fim vejamos os orçamentos dos clubes:

Benfica          98   milhões

PSG             637   milhões

Bayern M.    2.6    mil milhões

Nota: não foi possível aceder ao orçamento do Ferencvaros da Hungria.

Dados: Negócios e ZeroZero


O desporto é uma actividade que está profundamente enraizada no tecido sócio-económico e nele se integra, não podendo por isso ser visto isoladamente.

Assim, cada país/clube referido neste brevíssimo quadro é o espelho da actividade e potencialidades sócio-económicas do seu país.


Para mim, estes cenários são maioritariamente denotativos do desempenho dos clubes e selecções dos respectivos países, e da forma como as suas federações estão estruturadas.


O futebol é, porém, um jogo onde, por o ser, é incompatível com a previsibilidade. Contudo, é sabido que a selecção portuguesa possui jogadores muito talentosos, quase todos jogando no estrangeiro, e que constituem uma orquestra que sabe tocar. Resta que o maestro saiba ler a partitura, coisa que Fernando Santos, o único responsável, não soube ou não quis ler o modo como a Alemanha atacava pela direita e transferia para Gosen, na ala esquerda, – face a uma equipa portuguesa mais basculada para a direita – que directamente ou centrando, vulnerabilizava, e de que maneira, a baliza de Rui Patrício, assediada por 3 a 4 jogadores.

Não fora o génio de Ronaldo, de Diogo Jota e de Bernardo Silva, Portugal teria sofrido quatro golos sem resposta. Ou então, a leitura do jogo deveria ter sido outra, bem mais esclarecida. 

Mas Fernando Santos confessou-se culpado, isentando-se a si próprio de quaisquer consequências.

A conferência de imprensa pós-jogo, foi esclarecedora das não respostas e do nervosismo de que se achava possuído.


Assim, agora, de acordo com a imprensa da especialidade, estes são os cenários:

Cenário simples: Portugal vence a França e segue para os oitavos de final como primeiro ou segundo classificado do grupo F. Mais simples, não há.

Cenário que exige contas: Portugal e França empatam. Pode bastar, porque esse ponto pode ser suficiente para Portugal ser segundo classificado no grupo F ou um dos quatro melhores terceiros classificados. Só com o decorrer dos jogos dos outros grupos, ao longo da semana, a Seleção Nacional saberá se o empate é suficiente.

Cenário mais complicado, mas possível: Portugal perde com a França. Mas, mesmo assim segue para os oitavos. Como? A Hungria não vencer a Alemanha. E depois fazer as contas e ver se Portugal é um dos quatro melhores terceiros classificados. Como em 2016.


Estas as perspectivas da selecção de um dos mais belos países mediterrânicos, de uma gente boa e acolhedora, com uma baixa capacidade de realização, como o de um aeroporto que ameaça ir para o Montijo há pelo menos 58 anos e onde o falazar ainda constitui um estranho hábito que substitui o fazer.


Resta agora esperar e, se calhar, fazer contas, porque o engenheiro não vai poder mudar o modo de jogar da selecção, incapaz que foi de ler o jogo alemão. 


E assim vamos tendo Fátima, Fado e Futebol.

 

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