Wednesday, February 10, 2021

XUN ZI 荀子, O RITUAL, AS FUNÇÕES DO ESTADO E O POVO

 

Xunzi 荀子, aqui publicado pelo diário Hoje Macau, preconizou que, sendo o estado frugral nos gastos (seguindo o Ritual) o povo terá riqueza.

Recomenda-se a sua leitura e, igualmente, a dos outros textos pertencentes ao mesmo tema, na coluna à direita.

Etimológicamente, o ideograma que representa o Ritual (1)(li) é composto por duas partes: a metade direita do carácter significa qualquer coisa relacionada a seres espirituais, enquanto a esquerda simboliza um vaso com duas peças de jade usadas em serviços de sacrifício. Hsu Shen da Dinastia Han Oriental (25-220 d.C.) definiu o ritual como "seguimento", isto é, o passo ou acto pelo qual os seres espirituais são servidos adequadamente e a felicidade humana é obtida. Por outras palavras, o ritual significava originalmente "um sacrifício religioso", e esse sacrifício pode ser encontrado desde os primeiros tempos do homem com vista à sua felicidade.

Assim, na China antiga, o homem pode ser definido como um "ser ritual". Como exemplo, no antigo texto clássico de história e filosofia chamado Tso Chuan diz: "O ritual determina as relações do alto e do baixo; é a urdidura e trama do Céu e da Terra; é a vida das pessoas." Em outro lugar, acrescenta: "Ritual (é encontrado no) procedimento regular do Céu, os fenómenos correctos da Terra e as acções dos homens."

Poderá não ser perceptível para o Ocidental o conceito de Ritual e o seu profundo significado que conduzia à harmonia debaixo do céu 天下 (Tien Hsia) (2), porém perceber-se-á que, apesar de poder ter um propósito diferente, a República Popular da China, na sua caminhada desde 1949 para o futuro, cuidou de encher a barriga ao povo. Hoje o povo é composto de uma terça parte de classe média, e Xi Jing Ping anunciou que iria erradicar a pobreza da China neste ano de 2020 (salvo os atrasos da pandemia).

É verdade que a China é um sistema autocrático de partido único. É igualmente verdade que a China tem a maior população mundial: mil e quatrocentos milhões de habitantes. É verdade que a crítica é proibida e há prisões de outros Navalnis. Mas quando uma população de 450 milhões (igual à Europa comunitária) é Classe Média, quando as "democracias" ocidentais se envolvem nas maiores balbúrdias como o período Nixon ou Trump nos Estados Unidos e alguns países europeus, pergunto-me se devo acreditar nesta versão de democracia. Inclino-me pela dúvida, porque tenho a vivência de 42 anos numa Macau que há 20 anos é governada (remotamente) pela China, apesar de ter a autonomia da obediência. 

A democracia, além de ser historicamente berço da civilização ocidental e uma "invenção" grega para cidades como Atenas (actualmente a população é de 664 000, muito idêntica à de Macau) onde os escravos, nem os não nascidos em Atenas estavam proibidos de votar, tem uma existência actual muito curta, após o longo interregno dos impérios e monarquias absolutistas. E ao olhar o meu país constato que a forma de se fazer política é pela partidarite e que é o pilar sobre o qual assenta todo o sistema, o que significa a eleição do curto prazo (é improvável que um governo partidário possa durar três legislaturas) e a pertença a tribos políticas que desde 1974 ainda não conseguiram por de pé um estado capaz de encher a barriga aos portugueses, e onde o salário mínimo é mais do que miserável. É assim que, porque o Ritual e Confúcio não fazem parte da cultura ocidental, porque esta tem a sua própria cultura, no mesmo período (1974 até hoje) a China de 1.400 milhões vinda da extrema miséria, tornou-se na segunda (senão na primeira) potência económica mundial, trazendo com ela uma tecnologia muitissimo avançada.


Por muito que digam, basta ver como lidou com a pandemia, como o poder do estado de implementar isolamentos funciona. Em Macau, por exemplo, quem chegue ao Território é obrigado a ficar num hotel numa quarentena de 3 semanas. E o resultado é que ainda não houve uma morte. 


Democracia? Mas o que é democracia quando os salários são de tal ordem que centenas, senão milhares de enfermeiros, emigraram, convidados pelo primeiro ministro de então?
Que frugalidade do estado é essa em que todos os ministros andam de carros de luxo enquanto o primeiro ministro holandês vai trabalhar de bibicleta?


Está ainda por criar um sistema político onde impere para este país uma justiça célere, uma justiça social, uma habitação acessível, um ensino igual para ricos e pobres, uma saúde cem por cento pública e gratuita. Conseguem? Claro que não, nem à direita nem à esquerda.

Porque estão fundados nos interesses partidários que reclamam em favor do País. Assim é que o Ritual Confucionista é muito mais profundo do que deixa transparecer.


(1) O Livro dos Ritos 禮記, atribuído a Confúcio, é um dos Cinco Clássicos Confucionistas que aborda as normas sociais, o sistema de governo, e as cerimónias que permitiam organizar todo um sistema comportamental ou behaviourista do estado, durante a dinastia Zhou (1050 - 256 a.C.).

Foi Confúcio quem formulou o conceito de Junzi 君子, o homem superior, estabelecendo que o verdadeiro nobre era aquele que age de forma apropriada, conducente à harmonia, e digno da maior nobreza, banalizando assim não apenas a nobreza hereditária de sangue, como abrindo caminho para que, mais tarde, os exames de imperiais fossem abertos a todos quantos soubessem os Clássicos, podendo ser agricutores, mercadores ou sem profissão


(2) Debaixo do céu significa no mundo, na terra.

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